16 março 2010

XXXII - Os Candidatos e outras estórias

O XXXII Congresso do PSD foi para mim uma estreia. Globalmente gostei da experiência, porém, não me parece que seja muito diferente de um Conselho Nacional (que nunca presienciei, mas acredito que não seja muito diferente), mas com público e claques. É que os intervenientes e oradores são os mesmos. Os "obscuros" delegados de Secção e afins não mediáticos ou não abaronados podem inscrever-se e ter o direito a falar, mas talvez lá para as 5 da manhã, além da hora do lobo.

Para os que duvidavam da sua utilidade, o Congresso "convocado" por Pedro Santana Lopes serviu, muito mais do que para análise de propostas de alterações estatutárias, para ouvir falar os candidatos à liderança do PSD em discurso directo.

Permitiu ainda confirmar o previsto, ou seja, os dois candidatos com hipóteses de disputar verdadeiramente as eleições são, sem sombra de dúvidas, Pedro Passos Coelho e Paulo Rangel.

Castanheira Barros... enfim... um quadro a reservar para outros trabalhos, sem grandes dons oratórios mobilizadores, mas pareceu-me uma pessoa franca e trabalhadora. Aguiar Branco, por sua vez, e infelizmente para o próprio não parece ter uma base de apoio digna desse nome e a pouca reacção dos congressistas aos discursos terão sido pouco menos uma chamada da vida real para o candidato. Não obstante, um muito bom parlamentar, embora comprometido com o actual estado das coisas.

Paulo Rangel fez um primeiro discurso bastante mobilizador de aplausos, porém, o conteúdo e a forma, bem espremidos, levantaram-me algumas dúvidas. Ou seja, sound bites em catadupa para arrancar aplausos. Frases feitas, ataques a Sócrates. Um outro aspecto que detectei, foi que para dar força de convicção ao que discursa, Paulo Rangel... grita! Pelo menos a mim, não me entusiasmou e infelizmente não me convenceu na sua convicção relativamente a diversos aspectos do discurso. Um bom discurso, e um bom orador, não precisam de gritar nem de colocar uma solenidade eclética às suas palavras. Não obstante, Paulo Rangel parece-me ser um muito bom quadro do PSD mas... precisa de mais "rodagem" e de desenvolver um conhecimento mais aprofundado do partido que milita... à menos tempo do que eu, que tenho 29 anos de idade. As referências a Sá Carneiro e à história menos recente do PSD seriam porventura desnecessárias. Pareceram-me bastante forçadas. Mas estudar, não faz mal a ninguém. E desenvolver capacidade para a memória é fulcral para quem tem ambição de um dia vir a ser Primeiro-Ministro. Como é que alguém se esquece que foi militante de outro Partido? Nada tenho contra ex-militâncias noutras organizações, mas por exemplo, nem Durão Barroso "se esqueceu" que foi militante do PCTP-MRPP. Porquê olvidar uma militância no CDS Paulo Rangel? O segundo discurso foi menos empolgante, mas Paulo Rangel corrigiu e complementou com alguns temas que não tinha focado na anterior intervenção. Um bom trabalho nesse aspecto.

Pedro Passos Coelho, deslumbrou-me no verdadeiro sentido da palavra. Não fui ao congresso completamente convencido, mas a verdade é que adorei o conteúdo e a forma dos discursos deste candidato. Pedro Passos Coelho não grita, o seu discurso "conversa" com os militantes que o ouvem em total silêncio. Impressionante, os quase mil delegados e outros tantos observadores e afins, em silêncio (aliás, praticamente os únicos momentos de silêncio no Congresso). Também não precisa de gritar, as pessoas vão reagindo ao discurso e as palmas e afins saiem. A convicção das suas ideias e propostas emana de si, aliás, para uma pessoa céptica e "difícil" como eu, confesso que dei por mim a aplaudir pontualmente de pé. Pedro Passos Coelho é, sem dúvida, uma político diferente. O suposto "incidente" com Alberto João Jardim talvez tenha "saído mal", mas eu percebi o que era pretendido... fazer ver que as pessoas podem divergir umas das outras, mas resolverem as suas diferenças, para bem de terceiros (e daí a comparação com Sócrates e o caso da Madeira). Pedro Passos Coelho foi também o único candidato a afirmar que José Sòcrates não era o único mal que nos assola. Lembrou que o Partido Socialista e os seus Governos têm sido globalmente nefastos, e que a simples substituição do Primeiro-Ministro não resolvia a situação. Dois discursos plenos de conteúdo, um mais direccionado para os militantes, outro mais direccionado para todos os portugueses.

Duas breves notas sobre as alterações estatutárias:

1) De saudar a decisão histórica de acabar com a possibilidade de existirem diversas seccções num município, uma medida a pensar no Concelho de Lisboa, onde existiam mais secções que em todo o Distrito de Setúbal por exemplo (medida apoiada por Carlos Carreiras, Presidente da Distrital de Lisboa). Tenho curiosidade em ver quem será o primeiro Prsidente da Secção de Lisboa!

2) De repudiar com veemência, o modo como decorreram as votações (culpa de Rui Machete, Presidente da Mesa do Congresso) que levaram a que a proposta C (iniciativa de diversas distritais), onde se pretendia um reforço de poderes das estruturas distritais (em detrimento da Comissão Política Nacional) na escolha de candidatos às diversas eleições, nomeadamente às legislativas, não obstante ter uma maioria de votos a favor, tenha sido "chumbada" por não ter votos suficientes para poder ser uma alteração estatutária. A "contagem de votos" foi pouco menos que escandalosa, e os "boys" e "barões" conseguiram evitar as alterações. Em suma, candidados a deputados e câmaras paraquedistas estão para durar. Enfim, a auto-preservação é talvez o sentimento mais primário do ser humano.

A figura do Congresso, no entanto, foi Fernando Costa, o Presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha. Dos poucos a colocar o dedo em feridas, nomeadamente no ostracismo a que foi votado Pedro Passos Coelho e outros na feitura de listas para as últimas eleições legislativas, com um apelo forte a que este, se ganhar as eleições internas, "não faça o que lhe fizeram". De 10 minutos que teria para falar, Fernando Costa falou mais de 30! E atrevo-me a dizer que foi de todos, o mais aplaudido dos oradores.

Os ex-Presidentes do Partido fizeram bons discursos... com apelos à unidade... "bem prega Frei Tomás...".

Manuela Ferreira Leite, com a certeza de ter tido razão antes do tempo, no que toca à crise, à gravidade da situação, repetindo um discurso de Junho de 2008 em Guimarães. Enfim, mais do mesmo, por mais razão que tivesse, não convenceu os portugueses, não lhes deu ideias nem alternativas perceptíveis. Não se ganham eleições dizendo apenas o que não se vai fazer, ou só dizendo o que se vai Rasgar, Romper ou que se vai entrar em Ruptura. Manuela Ferreira Leite não deu Esperança aos portugueses... eu tenho Esperança em Pedro Passos Coelho, e no dia 26 de Março, vou fazer o meu papel, porque MUDAR é determinante e cumprir os compromissos assumidos para com os portugueses também! Paulo Rangel no Parlamento Europeu, Pedro Passos Coelho a liderar o Partido e o País!


Hugo Cruz

Militante N.º64733 do PSD